opinião

A visita de Lula à UFSM



A visita à Universidade pode ser feita por qualquer cidadão, pois é um órgão público, mantido pelo governo, através da arrecadação dos impostos de todos nós brasileiros.

Visita oficial, acredito que só autoridades, intelectuais, Prêmios Nobel, professores laureados etc...

Causou estranheza, por isso, a visita de Lula, que não se enquadra em nenhuma dessas categorias e tem contra si o fato de querer candidatar-se à presidência do Brasil.

Foi um presidente que trouxe uma visão diferente, para muitos brasileiros, com um projeto, que se tornou esperança para muitos trabalhadores e para as pessoas mais humildes. Lamentavelmente, não foi o que vimos. Fruto da corrupção que se instalou no seu governo, decepcionou a todos nós. Muitos que acreditavam nele fazem com que permaneçam cegos e não queiram enxergar o mal que fez ao país. Falcatruas, enriquecimento dos seus cupinchas, a corrupção que se instalou no seu governo está comprovada. Como pode uma pessoa que trabalhava na limpeza de um zoológico, de um momento para outro, transformar-se em grande empresário, fazendeiro etc.

É necessário ter muita coragem para aceitar o quanto se deixaram iludir.

Conheço, desde criança, um jovem, que se entregou, de corpo e alma, à causa trabalhista. Com seus irmãos, deixou o conforto da casa dos pais, indo morar em uma favela em Porto Alegre, para viver e vivenciar a vida dos menos favorecidos. Concluíram seus estudos universitários, fazendo doutorado, um na Espanha, outro na Bélgica e outro dedicou-se à causa indígena trabalhando como funcionário do Congresso Nacional. Todos eles continuaram defendendo seus ideais.

Hoje, tomo a liberdade de transcrever uma crônica escrita por um desses jovens, Paulo José Gaiger, atualmente professor da Universidade Federal de Pelotas, transcrita no Jornal Zero Hora, em 6 de outubro de 2016.

"Companheiro, o que você fez comigo?"

"Sinto um constrangimento, uma vergonha e uma desilusão como alguém que é traído por um grande amigo. Uma rasteira que me lança à uma tristeza nunca sentida, à uma sensação de morte prematura dos sonhos, dos projetos de uma condução política ética e justa para este país de históricos ardis miseráveis e enganosos. O poder, quando seduz e muda ideias, arrasa os jardins possíveis. Não sei, e não quero saber, quando se deu o início da atração da cúpula petista pelas manobras, dinheiro, engodos fáceis que marcaram governos precedentes. Os privilégios das elites do Legislativo e do Judiciário envergonham o bom senso e o conhecimento de isonomia e de justiça, mas não são exemplos a seguir.

As contas milionárias, as viagens em aviõezinhos das empreiteiras, as palestras superfaturadas, o caixa 2, tuas amizades com a caterva, que malquer este país, as alianças com a imbecilidade, meu querido companheiro, que gosto tem? De fel e de deslealdade. Você não sente? Nem vergonha? A sensação de uma faca cravada nas costas, que me dói tanto, e me deixa sem ação, tua herdeira também recebeu. A escolha, companheiro, foi tua e não minha. Não grite e não chore, porque o berro e o choro não são argumentos nem pedidos de perdão. Tua empáfia, arrogância e ingenuidade messiânica de um profeta salvador delirante não te permitem reconhecer o erro.

Eu, então, é que peço perdão aos meus dois filhos, aos meus amigos, porque os fiz acreditar no sonho de um Brasil justo, democrático, solidário e de políticas públicas transparentes e na direção do bem de todos. O campo verde e florido era miragem e nos encontramos em terra salgada e árida.

Agora, teus amigos de carteado e assalto estão aí, burlando-se dos sonhadores como eu, sentados no poder, bolando estratégias adocicadas de como manter todos os privilégios e injustiças. Veja que não consegui motivos para ir a Porto Alegre votar, não consegui erguer a bandeira, não tive forças para enfeitar a bicicleta, de cantar e animar amigos e conhecidos. Meu querido companheiro, você me empobreceu, suprimiu minha vontade, assassinou um militante do teu partido, mas não das causas justas. Aqui estou eu, em luto, e mergulhado em uma tristeza, que não ajudei a construir. Companheiro, o que você fez comigo?"

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